:. Fases da Obra Mediúnica de Chico Xavier - Parte II - Autor: Fernando Torres

A próxima fase que descreveremos neste boletim se refere ao período em que Chico Xavier recebeu mediunicamente os romances transmitidos pela entidade espiritual que se apresenta pelo nome de Emmanuel.

Este espírito, que desde cedo se identificou como protetor e mentor espiritual de Chico Xavier, tem no seu protegido um companheiro com quem compartilhou sofrimentos e alegrias durante séculos de experiências rencarnatórias em comum.

Emmanuel nos deixou várias obras de cunho moral e evangélico mas nos focalizaremos apenas os 5 romances que ele ditou nas décadas de 40 e 50.

Estes romances foram psicografados numa fase de intensa atividade mediúnica de Chico Xavier o qual era obrigado a escrever madrugada adentro afim de receber os capítulos emocionantes que descrevem a estória de sacrifício, martírio e exemplificação de personagens ligadas à causa cristã.

Havia muita expectativa e ansiedade por parte dos assitentes presentes nas reuniões mediúnicas que "torciam" pelos seus personagens favoritos e teciam opiniões pessoais sobre o provável destino dos mesmos.

Talvez o mais popular destes romances seja "Há Dois Mil Anos", verdadeira autobiografia de Emmanuel conforme ele mesmo nos revela no prefácio do livro. Esta é sua passagem na Terra como o orgulhoso senador Publio Lentulus casado com a encantadora Livia que abraçaa o Cristianismo provocando a revolta do marido. A doença da filha, Flavia, obriga o desesperado senador a buscar a ajuda de Jesus e o encontro dos dois é descrito emocionadamente num capítulo de rara beleza.

Envolvido numa trama perversa, Publio Lentulus é jogado contra sua própria esposa que suporta resignadamente o desprezo do marido até sua provação máxima nos circo romano. Encontra-se neste livro o singelo poema "Alma Gêmea", dedicado ao senador Lentulus por Livia e que se tornou muito popular no meio espirita.

O livro "50 Anos Depois" é a sequência de "Há Dois Mil Anos" e nele Emmanuel nos narra sua rencarnação expiatória como Nestorio, um escravo convertido ao Cristianismo que vem ao mundo numa condição humilde afim de dominar seu orgulho, motivo principal de sua queda na encarnação anterior como patrício romano.

Celia, entretanto, é a personagem principal deste livro a qual nunca será esquecida pelos seus valorosos testemunhos de fé e renúncia. Vivendo numa sociedade preconceituosa, ela se vê obrigada a se vestir como homem para poder servir a Jesus num núcleo religioso de hábitos muito rígidos localizado no norte da África.

"Ave, Cristo!" tambem é um episódio do Cristianismo primitivo que se passa por volta do ano 200 de nossa era. Trata-se da luta do romano convertido ao Cristianismo, Quinto Varro, para conduzir seu filho, Taciano, ao caminho do comportamento cristão. Desconhecendo a identidade do pai, Taciano é responsável pela sua morte e, retornando ao mundo espiritual, Quinto Varro pede mais uma oportunidade rencarnatória para recuperar seu filho. O livro possui uma rede complexa de relações na qual almas com débitos em comum são colocadas face à face nas mais diversas e inesperadas situações.

Fechando o ciclo de obras que tem como cenário o Mundo Romano, vamos encontrar aquela que é considerada a "obra-prima" de Emmanuel, o livro "Paulo e Estevão".

Trata-se da vida de Paulo de Tarso, o apóstolo dos gentios, cuja alma repleta de conflitos filosóficos, representa, na opinião de Herculano Pires, a transição do padrão de comportamento típico daquela época para o modo de ser cristão.

Responsável diretamente pela morte de Estevão, primeiro mártir do Crisitianismo, Saulo de Tarso vê a figura de Jesus o "perseguindo" em cada ato de sua vida, convidando-o ao trabalho em sua seara, até que no inesquecível episódio da visão de Jesus às portas de Damasco, Saulo finalmente se curva diante do irresistível apelo.

Emmanuel nos descreve as viagens de Paulo que percorreu todo o Mediterrâneo fundando igrejas e distribuindo suas famosas epístolas para servirem de orientação aos primeiros núcleos cristãos.

"Paulo e Estevão" foi transmitido a Chico Xavier pelo próprio Paulo de Tarso que se valeu da intermediação de Emmanuel por causa da grande distância psíquica entre Chico e Paulo.

Segundo o próprio Chico Xavier, receber "Paulo e Estevão" representou o mais emocionante episódio de sua carreira mediúnica pois, ao término do romance, todas as personagens do livro se apresentaram para agradecer e reverenciar o grande esforço e dedicação do médium mineiro.

"Renúncia" é o único romance que se passa fora do ambiente romano. Desta vez Emmanuel nos conta a estória de Alcione, entidade de privilegiada elevação espiritual que renasce na Europa do seculo XVII afim de ajudar no erguimento moral de seu amado, Polux, assim como de outras entidades que cruzaram seu caminho.

A psicologia de Alcione, segundo Emmanuel, é das mais complexas e seus exemplos de renúncia e desprendimento não podem ser analisados superficilamente pois representam um padrão de comportamento somente compatível com espíritos de elevada hierarquia moral. Sobre Alcione, Emmanuel ainda diz: "Na grandeza de sua dedicação, vemos o amor renunciando à glória da luz, a fim de se mergulhar no mundo da morte."

Emmanuel sempre deixou bem claro que seus romances não tinham pretensões literárias mas sua idéia central foi nos descrever, através de seus romances, casos REAIS de renúncia e desprendimento para servir-nos de exemplos.

Nós que sempre nos queixamos da vida, deveríamos nos espelhar nos exemplos de Livia, Celia, Quinto Varro, Paulo de Tarso, Alcione e tantas outras personalidades que, vivendo em ambientes muito mais hostis que o nosso, deram seus testemunhos de fé e coragem para provar que a morte nunca seria forte o suficiente para aniquilar a vida.

Continua...

 

Extraído do Boletim GEAE (Grupo de Estudos Avançados Espíritas) nº 24 -23/Março/1993