:. Vendo o Invisível - Parte II
3 Radiações invisíveis (causas materiais)

Raio X

A 8 de Novembro de 1895, o professor alemão Wilhelm Conrad Röntgen (1845-1923), enquanto trabalhava em seu laboratório em Wurzburg, prestou atenção a irradiações luminosas que partiam de uma tela emulsionada com platinocianeto de bário, todas as vezes que ligava um dos seus "tubos de Crookes", um dispositivo de raios catódicos inventado por William Crookes (1832-1919). A tela estava localizada longe do tubo e sempre reluzia ainda que qualquer outro objeto fosse colocado na linha que a ligava ao tubo. Röntgen foi capaz de mostrar a propriedade de penetração desses raios, fornecendo ao mundo a primeira "radiografia" e um método eficaz de pesquisa médica e física.

A descoberta de Röntgen foi totalmente acidental pois os raios emitidos pelo tubo de Crookes são completamente invisíveis. Hoje sabemos que se devem à colisões de minúsculas partículas (elétrons) na parede do tubo que os gera. Na época de Röntgen a realidade dessas partículas (igualmente invisíveis) era absolutamente desconhecida. Atentando para o desenho da Fig. 3, vemos que a “realidade” (no sentido de sua impressão ao um sentido ordinário – a visão) foi inferida indiretamente por meio da placa emulsionada com o sal de bário que tem a propriedade de emitir luz toda vez que atingida pelos raios X. Acidentalmente também, Röntgen descobriu que esses raios não eram barrados por obstruções materiais. Trocando a placa por uma chapa fotográfica e o objeto por um membro do corpo humano, a radiografia médica estava inventada.

Fig. 3 Esquema da descoberta de Röntgen (Raios X)


Ondas de Rádio


A base teórica para compreensão e previsão da existência de ondas de rádio foi feita por James Clerk Maxwell em 1873 em seu artigo "A dynamical theory of the electromagnetic field" publicado na Royal Society. De acordo com [1], David Hughes em 1878 mostrou que sua balança de indução provocava ruídos em um telefone construído em casa por ele. Na época, sua descoberta foi desqualificada como sendo efeito de indução de correntes. Entre 1886 e 1888, Heinrich R Hertz validou a teoria de Maxwell por experimentação, demonstrando que a radiação gerada por ele tinha característica de ondas. No Brasil, o padre Landell de Moura conduziu experimentos por volta de 1893 sobre um dispositivo de rádio primitivo.



Na essência do experimento de Hertz estava a produção de um tipo de radiação invisível que não se poderia explicar usando o paradigma de indução de correntes (¹). Hoje sabemos que a indução de correntes pode ser usada na explicação da excitação elétrica provocada nas antenas de rádio mas acoplada à idéia da propagação das ondas eletromagnéticas. Na época a realidade dessas ondas não era conhecida, e muito menos que se tratava de um tipo de radiação da mesma natureza da luz.

Fig. 4 Esquema da demostração de Hertz sobre ondas eletromagnéticas (OEM).


A Fig. 4 traz um desenho muito simplificado do experimento de Hertz. Usando uma bobina de indução (semelhante a usada por Röentgen),  faíscas são geradas em dois terminais acoplados a um sistema capacitivo (que armazena eletricidade até ocorrer uma faísca). A faísca gera ondas eletromagnéticas que se propagam pelo espaço (ondas de rádio). Essas ondas são detectadas a distância por um outro dispositivo chamado resonador. O resonador produz faíscas cuja intensidade depende de sua distância da bobina. Com esse arranjo, Hertz foi capaz de mostrar a “natureza ondulatória” da radiação eletromagnética, demostrando, inclusive a existência de polarização nas ondas de rádio (²).


Além da possibilidade de “ver o invisível” presente em todo espectro eletromagnético (Fig. 5), para além do violeta e abaixo do vermelho, sistemas de comunicação eficientes foram desenvolvidos com considerável sofisticação na região das ondas de rádio. O esquema inferior da Fig. 5 (explicando a comunicação via rádio) pode ter todos os constituintes equivalentes da Fig. 2 plenamente evidenciados. Analisemos os experimentos de Röntgen e Hertz de acordo com a perpectiva de interação sensorial explícita na Fig. 2. Tanto o raio X como as ondas de rádio - que hoje sabemos ter a mesma natureza, a despeito da diferença de uma propriedade fundamental, o comprimento de onda - não geram fenômenos registráveis pelos sentidos descritos na Fig. 2. Houve uma longa cadeia de raciocínios e ponderações (com  consideráveis trabalhos teóricos) até que se concluísse serem os dois experimentos explicáveis por uma mesma causa. Não se pode dizer que os raios X ou as ondas de rádio tornaram-se conhecidas para nós por meio desses experimentos, sem levar em consideração os trabalhos teóricos da época. Podemos dizer que eles evidenciam hoje, diante de uma teoria consideravelmente aceita e bem desenvolvida - e de forma totalmente indireta aos nossos sentidos humanos - a existência de uma causa comum que nos é insensível. Esses arranjos experimentais (e outros mais sofisticados) são meios que nos possibilitam hoje interagir com radiações invisíveis, através de sistemas que geram sinais detectáveis por nossos sentidos ordinários.

Fig. 5 Espectro eletromagnético e uma explicação de como funciona o sistema de comunicação via rádio.

¹ Diz respeito ao aparecimento de correntes em condutores devido a ação de outras correntes próximas ou magnetos em movimento.

² Fenômeno típico da radiação luminosa que se sabia, na época, ter origem na natureza ondulatória da luz.


 

Continua...

 

Ademir L. Xavier Jr.
Fonte: Boletim GEAE (Grupo de Estudos Avançados Espíritas) - Número 504 - 15 de Dezembro de 2005