Artigos do
Grupo Espírita Miguel Arcanjo
www.gema-rj.org

Artigos

Imprimir | Voltar

O Papel dos Médiuns nas Comunicações Espíritas

Ilustração retirada do livro Estudando a mediunidade de Martins Peralva

Allan Kardec e os Espíritos Erasto e Timóteo analisam questões fundamentais sobre a prática mediúnica, visando aos que integram um grupo mediúnico, ou dele desejam fazer parte, no capítulo XIX de O Livro
dos Médiuns.

Em razão da seriedade e utilidade dos esclarecimentos, o capítulo é indicado como leitura indispensável aos espíritas interessados por essas atividades.

Entre todas as ideias aí desenvolvidas duas se sobressaem e são continuamente retomadas pelos citados orientadores: o valor do conhecimento espírita e a boa conduta moral dos médiuns.

Considerações sobre o transe mediúnico – denominado de estado de crise à época de publicação do livro – assinalam o início do estudo. Por se tratar de um estado especial, o de alteração da consciência, o transe pode ser mais ou menos acentuado e conduzir à fadiga, que é reparada pelo repouso. Sabe-se, porém, que o desgaste energético decorrente dos transes mediúnicos é relativo, pois há médiuns que raramente apresentam fadiga, antes, durante ou após a prática mediúnica.

A questão da fadiga envolve outros fatores que devem ser considerados: constituição orgânica, idade, presença/ausência de enfermidade, estilo de vida, uso de certos medicamentos etc.

O estado de transe apresenta gradações: nos transes profundos, usuais nos sonambúlicos e nos psicógrafos mecânicos, os médiuns não se recordam dos acontecimentos ocorridos durante a transmissão
da mensagem. Em relação aos psicógrafos mecânicos, afirma Kardec que “o pensamento vem depois do ato da escrita”. Em oposição, o transe dos médiuns intuitivos é leve, superficial:

"[...] o médium intuitivo age como faria um intérprete. Este, de fato, para transmitir o pensamento, precisa compreendê-lo e, de certo modo, apropriar-se dele, para traduzi-lo fielmente. Entretanto, esse pensamento não é seu, apenas lhe atravessa o cérebro. É exatamente este o papel do médium intuitivo."

Entre os dois extremos há uma ampla gradação de estados alterados da consciência. O médium semimecânico, por exemplo, apresenta aspectos do transe profundo e do transe superficial:

"[...] Sente que sua mão é impulsionada contra sua vontade, mas, ao mesmo tempo, tem consciência do que escreve, à medida que as palavras se formam."

Outro tópico analisado no texto refere-se à participação do médium durante a transmissão do ditado mediúnico. Em princípio, tal intervenção é considerada normal dentro de um limite aceito como tolerável, no qual não se evidencie qualquer interferência no pensamento/ideias do Espírito comunicante. Assim, toda mensagem mediúnica traz o colorido da personalidade do médium. Quando bem ajustada, essa parceria
médium-Espírito define as bases da passividade mediúnica: o médium é considerado passivo

“[...] quando não mistura suas próprias ideias com as do Espírito que se comunica [...]. Seu concurso [o do médium] é sempre necessário, como o de um intermediário, mesmo quando se trata dos chamados médiuns mecânicos”.

Com base na orientação de Kardec de que o intermediário encarnado funciona sempre como um intérprete, mesmo em se tratando de sonâmbulos e de médiuns mecânicos, é óbvio que sempre ocorrerá alguma interferência anímica:

"O Espírito do médium é o intérprete, porque está ligado ao corpo que serve para falar e por ser necessária uma cadeia entre vós e os Espíritos que se comunicam, como é preciso um fio elétrico para transmitir uma notícia a grande distância, desde que haja, na extremidade do fio, uma pessoa inteligente que a receba e transmita."

No que tange às aptidões especiais demonstradas por alguns médiuns – outro tema estudado no capítulo –, como: transmissão de mensagens em línguas estrangeiras, recebimento de poemas, composições musicais e desenhos etc., há o esclarecimento de que, em geral, tais médiuns adquiriram essas habilidades em existências anteriores, mesmo que na atual reencarnação não sejam ostensivamente detectadas. Entretanto, podem ser recuperadas durante a comunicação mediúnica, uma vez que “os conhecimentos adquiridos jamais são perdidos pelo Espírito”.

Todas essas aptidões, ensinam os orientadores espirituais, “são formas de expressão do pensamento. Os Espíritos se servem dos instrumentos que lhes oferecem mais facilidade”.

O mesmo princípio se aplica à aptidão de certos médiuns para movimentar e deslocar objetos a distância. Nesta circunstância, os objetos são impregnados por fluidos especiais, os ectoplásmicos, liberados pelos médiuns, e outros retirados da Natureza e do mundo espiritual, os quais são associados e adequadamente manipulados pelos desencarnados com a finalidade de provocar a manifestação do fenômeno espírita.

A transmissão de mensagens, sobretudo as instrutivas, está diretamente subordinada ao conhecimento
que o médium possui, que é secundado pela sua conduta moral. O conhecimento, porém, é visto como fator essencial no estabelecimento de afinidades entre os dois planos de vida:

"[...] se não houver afinidade entre eles, o Espírito do médium pode alterar as respostas e assimilá-las às suas próprias ideias e inclinações. Porém, não exerce influência sobre os Espíritos comunicantes, autores da respostas. É apenas um mau intérprete."

Não sendo superadas as dificuldades de sintonia (afinidade) mental entre o médium e o Espírito, a comunicação pode se tornar inviável, ou, caso ocorra, não será de boa qualidade. Este tem sido um dos maiores obstáculos encontrados na prática mediúnica, especialmente se a mensagem é subscrita por Espíritos conhecidos e de notório saber. Justifica-se, assim, porque os Espíritos esclarecidos procuram

"[...] o intérprete que mais simpatize com eles e que exprima com mais exatidão os seus pensamentos. Não havendo simpatia entre eles, o Espírito do médium é um antagonista que oferece certa resistência, tornando-se um intérprete de má qualidade e muitas vezes infiel. É o que acontece entre vós, quando a opinião de um sábio é transmitida por um homem estouvado ou alguém de má-fé."

No final do capítulo XIX, Erasto e Timóteo apresentam esclarecedora dissertação mediúnica, uma verdadeira aula que ensina como os médiuns podem se tornar bons instrumentos, exercendo com equilíbrio e sabedoria o papel que lhes cabe nas comunicações espíritas. Destacamos algumas como ilustração:

  • [...] nos comunicamos com os Espíritos encarnados dos médiuns [...] tão só pela irradiação do nosso pensamento.
  • Os nossos pensamentos não precisam da vestimenta da palavra para serem compreendidos. [...] Quer dizer que tal pensamento pode ser compreendido por tais ou quais Espíritos, conforme o adiantamento
    deles [...].
  • Assim, quando encontramos em um médium o cérebro repleto de conhecimentos adquiridos na sua vida atual e o seu Espírito rico de conhecimentos latentes, obtidos em vidas anteriores [...] preferimos nos servir dele, porque com ele o fenômeno de comunicação se torna muito mais fácil para nós [...].
  • Com um médium cuja inteligência atual ou anterior se ache desenvolvida, o nosso pensamento se comunica instantaneamente de Espírito a Espírito, graças a uma faculdade peculiar à essência mesma do
    Espírito. Nesse caso, encontramos no cérebro do médium os elementos apropriados a dar ao nosso pensamento a vestimenta da palavra que lhe corresponda, e isto quer o médium seja intuitivo, semimecânico ou inteiramente mecânico. [...]
  • É por isso que, seja qual for a diversidade dos Espíritos que se comunicam com um médium, os ditados que este obtém, ainda que procedendo de Espíritos diferentes, trazem, quanto à forma e ao colorido, o cunho que lhe é pessoal. [...]

Revista Reformador
Junho de 2011
Publicado em 31/01/2014.