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Autoafirmação

É preciso que façamos por merecer o reconhecimento alheio, cultivando
boa vontade, compreensão, respeito, civilidade.
Começo ideal: exercitar o bom humor.

Autoafirmação, define o dicionário, é o empenho por sermos aceitos no meio em que vivemos, realizando nossos potenciais de cultura, conhecimento, maneira de ser.

É muito bom saber que as pessoas nos estimam, nos recebem bem, nos consideram… Nada gratuito.

É preciso que façamos por merecer o reconhecimento alheio, cultivando boa vontade, compreensão, respeito, civilidade.

Começo ideal: exercitar o bom humor.

Expressão carrancuda, costuma-se dizer, é obra-prima do demônio, afasta as pessoas, predispondo-as contra nós. Pior quando há o vício da queixa, como se o infeliz, por vocação, carregasse sobre os ombros os males do mundo.

Saudamos alguém:

– Bom dia! Como vai?

E a pessoa explica, compondo uma anamnese, como se estivesse em consultório médico. Reclama da saúde, das pessoas, do tempo, da vida. Pensamento negativo, perturbador.

Seria de bom tom, atitude sociável, que respondesse simplesmente, rosto emoldurado por um sorriso:

– Estou muito bem, com a graça de Deus!

Essa tendência negativa, que costuma caracterizar o comportamento humano, contaminou o próprio Cristianismo.

A teologia medieval fixou Jesus como um homem a carregar os pecados humanos sobre os ombros para lavá-los com o próprio sangue. As igrejas eram sombrias, escuras, com a figura do Cristo crucificado derramando-se em sangue, atormentado, vencido…

Reviviam-se as antigas cerimônias do culto judeu, em que as faltas da comunidade eram transferidas para um bode. Em seguida, sacrificava-se o animal e todos ficavam purificados. Nada mais distanciado da realidade.

Como todo Espírito superior, aliás, a maior figura da Humanidade, Jesus certamente era bem-humorado, sorridente, de relacionamento fácil, sempre disposto a exemplificar os valores da bondade, bom ânimo e alegria que ensinava.

Por isso, o significado do Evangelho é Boa Nova.

É a excelente notícia da existência do Pai Celeste, infinitamente justo e amoroso, a trabalhar incessantemente pela felicidade de seus filhos. Como cultivar tristezas e temores, dúvidas e incertezas, diante dessa alvissareira revelação?

Cristão triste, acabrunhado, infeliz, é cristão sem o Cristo, aprendiz deficiente que não refletiu sobre a sublimidade de suas lições e exemplos.

Eis um tema que merece nossa atenção: reflexão.

Cultivar vida íntima, o diálogo interior, a busca do autoconhecimento, aprendendo a pensar muito e falar pouco. É o que caracteriza o modo de ser dos sábios. Sócrates, o grande filósofo grego, dizia que a reflexão é indispensável à nossa saúde e bem--estar. Sem ela a alma fica num estado semelhante ao do indivíduo embriagado, de pensamento confuso, desordenado, capaz de dizer e fazer o que não é oportuno e agir de forma impulsiva e comprometedora.

Brigas, discussões, desentendimentos, agressões, vícios, tudo o que de ruim pode nos acontecer é geralmente fruto do fazer sem refletir, quando deveríamos sempre refletir antes de fazer.

A falta de reflexão induz à autoafirmação negativa, a mais exercitada, que seria dar destaque ao que supostamente é o lado mau das pessoas, guiando-se pela ideia do se eu jogá-lo no chão, ficarei mais alto.

Resvalamos para a fofoca, um dos grandes males da vida social – o comentário desairoso e descompromissado em torno do comportamento alheio.

O problema é que ela raramente exprime a verdade e muito menos toda a verdade, estribando-se sempre em suposições.

O próprio Sócrates foi vitimado pelas fofocas de pessoas que o acusavam de corromper a mocidade ateniense, quando, na verdade, ele apenas estimulava os moços a exercitarem a razão, aprendendo a refletir.

E porque os seus juízes também não estavam habituados a refletir, deixaram-se envolver, e Sócrates foi condenado à morte.

Foi com base em fofocas das lideranças religiosas que Jesus foi julgado como alguém que pretendia destruir o culto estabelecido, terminando por ser condenado à cruz.

Helen Keller dizia, com a sabedoria que a caracterizava: “Para que faças brilhar tua estrela não precisas apagar a minha”.

Está de acordo com a observação de Kardec. Deixa bem claro que o homem de bem jamais estará preocupado em procurar defeitos no próximo e muito menos se empenhará em fazer propaganda deles.

E quando somos chamados a apontar falhas alheias, em determinadas situações?

Recomendação de Allan Kardec: veja o bem que possa atenuar o mal. Seria corrigir com reforço positivo, nunca negativo. Alguns exemplos:

No escritório. O chefe dirige-se ao subordinado que não está correspondendo às expectativas.

Reforço negativo:

– Fulano, você tem cometido falhas no processamento de dados. Se não melhorar, seremos obrigados a tomar medidas drásticas.

O funcionário poderá até empenhar-se em superar sua deficiência, mesmo porque precisa do emprego. Porém, será difícil evitar um sentimento de antipatia contra o superior, em face de sua truculência, o que fatalmente prejudicará seu desempenho.

Reforço positivo:

– Você está indo bem. Apreciamos sua iniciativa e disciplina. Se puder melhorar um pouco no processamento de dados ficará perfeito. Vamos lhe patrocinar uma reciclagem na informática.

O funcionário vai agradecer o elogio e aceitar bem a crítica, disposto a melhorar sua atuação.

No lar. O marido conversa com a esposa sobre o almoço que não está do seu agrado.

Reforço negativo:

– A comida está meio insossa. Ah! Que saudade da comidinha da mamãe!

Talvez a esposa consiga conter o impulso de jogar os pratos na cabeça do petulante, mas é quase certo que se sentirá desmotivada para continuar cozinhando.

Reforço positivo:

– Meu bem, o almoço está ótimo. Faltou um tiquinho de sal, mas nem mamãe faria melhor!

A comida não está lá essas coisas, mas a reação do marido a estimulará a fazer melhor.

No Centro Espírita, o dirigente de reunião mediúnica conversa com o médium que vem faltando aos trabalhos.

Reforço negativo:

– Infelizmente, se você não firmar a frequência vou ser obrigado a afastá-lo.

Diante dessa ameaça, é bem possível que o médium se afaste em definitivo.

Reforço positivo:

– Estamos com saudades. Você faz falta em nossa reunião. Sua presença é importante.

Valorizado, o médium vai empenhar-se em cultivar assiduidade.

Diante dos discípulos, na última ceia, preparando-os para as lutas do porvir, Jesus lhes falou:

"O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.
Ninguém tem maior amor do que este; de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.
Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando.
Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer."

Destacando que os apóstolos não eram meros servos para executar suas ordens, mas amigos pelos quais ele daria a própria vida, Jesus deu-lhes o reforço positivo que os inspiraria nas lutas do porvir. Já não eram meros adeptos de um movimento religioso, relutantes em enfrentar lutas e perseguições, mas amigos do Cristo, dispostos a dar a vida por ele. Foi graças a esse reforço positivo que eles ajudaram a instalar a luz do Evangelho na Terra, supremo marco de bênçãos para a edificação do Reino de Deus.



Richard Simonetti
Revista Reformador
Publicado em 01/2013