Artigos do
Grupo Espírita Miguel Arcanjo
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Que razões levam uma pessoa a desertar de um bem tão precioso que
é a vida, contrariando o instinto de conservação? Como vacinar-se
contraesse flagelo?
As estatísticas de órgãos oficiais são imprecisas quanto às taxas de suicídio no Globo, que apresentam variantes indefinidas de região para região.
O suicídio é considerado a décima causa de morte no mundo. Os estudiosos não encontram uma explicação conclusiva para as disparidades das taxas e as causas do suicídio, visto que há uma combinação de fatores de diversas ordens: sociais, econômicos, psicológicos, psiquiátricos e ambientais que podem contribuir para a sua ocorrência. Graças ao crescimento dos índices de suicídio, a Organização Mundial da Saúde (OMS) trata o evento como um problema de saúde pública desde a década de 90, iniciativa que também foi adotada pelo governo brasileiro a partir de 2005.
Não obstante todas as causas apontadas pelos estudiosos terrestres, quase sempre ligadas a fatores exógenos, na raiz do problema encontramos o enigma espiritual ignorado pelas ciências acadêmicas. A tese espírita contribui muito para o combate e a erradicação do suicídio, porque, além dos fatores externos, estudados pela comunidade científica, avalia a própria experiência dos suicidas, os quais, utilizando-se de médiuns, vêm, pessoalmente, advertir os homens sobre a inutilidade e o equívoco desse gesto.
Que razões levam uma pessoa a desertar de um bem tão precioso que é a vida, contrariando o instinto de conservação? Como vacinar-se contra esse flagelo? O desgosto da vida e o suicídio possuem diversas causas. Pretendemos analisar apenas algumas delas, sob o ponto de vista dos princípios estudados pelo Espiritismo, sem intenção de esgotar o tema, até porque não há espaço para isso nestas páginas.
O materialismo, fundado na crença niilista, tem sido um dos grandes vetores desse flagelo. Acreditando que a morte é o fim de tudo muitas pessoas, desgostosas da vida, optam pela saída desditosa do suicídio. É uma ideia que repugna à lógica e ao bom-senso. Se a morte fosse a destruição completa do homem muito ganhariam com ela os maus, pois se veriam livres, ao mesmo tempo, do corpo, do Espírito e dos vícios. Basta um pouco de reflexão: por que lutar para ser bom, para progredir, se todos vamos ter o mesmo destino, independentemente de nosso comportamento?
A vida no corpo físico perderia completamente a razão de ser. Seria inútil reencarnar. A crença de que após a morte física vem o nada é incompatível com a perfeição, a justiça e a bondade de Deus. O orgulho e a ignorância a respeito das leis espirituais também contribuem para isso.Criaturas em desespero, numa atitude de rebeldia contra as Leis do Criador, não aceitando os reveses que a vida lhes impõe, em decorrência da lei de causa e efeito, procuram o suicídio como válvula de escape para seus problemas, que lhes parecem insuperáveis ou insolúveis, sem considerar que as dificuldades, por mais desafiadoras que sejam, constituem instrumentos de resgate, crescimento intelectual e espiritual. Para não cederem em seus pontos de vista inflexíveis ou por não aceitarem uma derrota, uma doença aparentemente incurável, um desastre financeiro, uma decepção amorosa, procuram o suicídio que, entretanto, lhes reserva amargas experiências.
A obsessão espiritual tem sido outra causa dos suicídios, muito pouco estudada pelos profissionais da saúde, muitos deles desconhecedores das Leis Naturais ora estudadas. A obsessão é o domínio que Espíritos inferiores exercem sobre certas pessoas. Não raro, são inimigos do passado, ávidos de vingança contra o seu desafeto. Por vezes, o assédio espiritual é tão grande que pode ocasionar problemas orgânicos sérios, inclusive lesões no cérebro, capazes de levar a pessoa à loucura, se não receber tratamento espiritual adequado, a tempo.
Outra causa predominante é o desleixo para com o corpo físico, instrumento do progresso, tais como o abuso dos alimentos, do álcool, do fumo, das drogas, dos remédios em excesso, do sexo desequilibrado, do ódio, da mágoa profunda etc. Estes hábitos nocivos constituem fontes solapadoras das energias, que muito contribuem para que a morte física aconteça antes do tempo. É conhecido como suicídio indireto ou inconsciente. A pessoa não quer, deliberadamente, a morte, mas o estilo de vida adotado a conduz à morte prematura. Considerando o estágio moral da coletividade, quase todos podemos ser considerados suicidas inconscientes. Daí a importância do cultivo da religião, que nos oferece diretrizes para vivermos uma vida de qualidade, sem abusar das prerrogativas que o Criador nos concede para dela desfrutarmos.
As consequências do suicídio são terríveis para o Espírito e todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente para a sua prática. Elas são as mais variadas e correspondem às causas e às circunstâncias que o produziram. Há, entretanto, resultados que são comuns a todos. Os Espíritos narram que a primeira coisa que descobrem, frustrados, após o gesto tresloucado, é que ninguém foge desi mesmo, ninguém morre. O que se destrói é apenas o corpo físico.
A consciência continua palpitando em outra dimensão. Por isso, o desapontamento e a desordem das faculdades mentais são assaz penosos, os quais, aliados ao remorso, os atingem em cheio.
Os sofrimentos, em vez de serem aliviados, como esperava o suicida, agravam-se superlativamente. Experiência comum a todos os Espíritos que optaram por essa fuga impossível é a visão constante dos fatos que culminaram com a sua morte física, como se fosse um filme de sua própria vida, num morrer e remorrer sem tréguas. A visão do corpo em estado de putrefação e a sensação de estar sendo devorado pelos vermes também é muito comum no Espírito suicida, o qual experimenta severas dificuldades para se desligar dos laços carnais.
Depois, vêm as flagelações nos planos espirituais inferiores, onde o enfermo se junta a outros Espíritos sofredores em situação semelhante, agravando a sua situação moral. Não bastasse tudo isso, o suicida poderá ter dificuldades de acesso às reencarnações futuras, benditas oportunidades de recomeço para o Espírito, que lhe proporcionarão trégua nas dores superlativas e lhe permitirão a chance de reparar seu erro e as consequências do ato desatinado, que também flagela os entes queridos.
O estudo das propriedades do perispírito, considerado o modelo organizador biológico do corpo físico, auxilia a compreender o porquê de tantas enfermidades físicas e/ou mentais dolorosas que afetam milhares de reencarnantes, muitas delas radicadas no suicídio então praticado, as quais devem ser vistas não como punição divina, mas sim como o remédio amargo que corrige e reeduca o Espírito imortal, considerando que a Justiça Divina se encontra insculpida na própria consciência. É que a dor do remorso, sob o comando da mente, tem o condão de provocar alterações na estrutura atômica do perispírito, o que afeta, sensivelmente, a formação do futuro corpo físico.
O suicídio é uma violenta interferência nos mecanismos da Lei Divina, pois a vida é um bem supremo indisponível. Se o homem não é capaz de criar, também não tem o direito de destruir o próprio corpo, primeiro empréstimo de Deus concedido ao seu detentor, para aperfeiçoamento do Espírito imortal.
Aquele que se mata, na vã esperança de rapidamente chegar ao “céu”, comete outra loucura. Assim agem muitos fanáticos, destruindo-se e a tantos outros inocentes. Os que assim procedem apenas retardam a sua entrada num mundo melhor e terão de pedir lhes seja permitido voltar, para concluírem a vida a que puseram termo, sob o influxo de uma ideia falsa. O mesmo destino está reservado àqueles que se matam, com o intuito de se juntar aos entes queridos que os precederam na grande viagem. Esse gesto estúrdio, em vez de aproximá-los, os afastará ainda mais dos seres que amam.
O Espiritismo, com este precioso cabedal de informações, apresenta-se como solução preventiva não somente aos Espíritos atormentados, mas também aos que gozam de boa saúde mental, alertando-os sobre os perigos e a inutilidade desse gesto insano. Tais conhecimentos não apenas previnem como também consolam os familiares, ante a certeza da misericórdia divina que, além das atenuantes dos sofrimentos, conforme as circunstâncias, proporciona ao suicida a reparação do erro.
Por isso, ao tomarmos conhecimento de que alguém cometeu suicídio, não condenemos, mas elevemos o pensamento em prece a Deus, para que o irmão desventurado suporte, com resignação, os sofrimentos que carreou a si próprio, sempre lembrando que, para aqueles que continuam estagiando no plano físico, os maiores antídotos contra o suicídio são a vigilância, a oração e o trabalho em favor do próximo.