Artigos do
Grupo Espírita Miguel Arcanjo
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Somos livres, sim, para realizar qualquer desejo, desde que assumamos
as consequências de nossos atos.
Todo espírita sabe que não é perfeito e que o maior segredo para se manter fiel às leis divinas e atingir mais rapidamente a felicidade é "orar e vigiar".
Na maioria das vezes, porém, esta máxima ensinada por Jesus só é lembrada em momentos extremos – num grande perigo, oramos; numa cruel perseguição, vigiamos. Ainda custamos compreender que oração não quer dizer pedido e que vigília não significa olhar o outro.
Muito mais que isso, orar e vigiar significa estar em comunhão com o Criador e, com a aproximação do carnaval, ainda ficamos divididos com relação ao nosso posicionamento sobre essa tradicional festa popular. De um lado, ficamos temerosos com as obsessões; de outro, sentimo-nos não só curiosos, mas realmente atraídos e mergulhados no assunto, pelos noticiários, pelo colorido, pelas músicas, pelas imagens na TV, nos jornais ou revistas.
Diante de tantas mensagens de permissividade e sensualidade, como se tudo parasse porque é carnaval, acabamos nos sentindo inseguros em participar de alguma forma deste período de folia, onde muitas vezes a libertinagem rompe regras, agredindo concepções sociais estabelecidas, transformando-o em espetáculo bastante característico, verdadeiro tesouro comercial para o mundo das comunicações.
As origens pagãs
Como festa popular e expressão da nossa cultura, o carnaval é aceito pela Igreja, estando suas origens nas mais antigas celebrações da humanidade, associadas a fenômenos astronômicos e a ciclos naturais, caracterizando um período de festas e manifestações folclóricas. Pesquisas mostram, por exemplo, que já bem antes da era cristã, homens, mulheres e crianças se reuniam no verão com os rostos mascarados e os corpos pintados para espantar os demônios da má colheita. Inicialmente realizada pelos povos pagãos em homenagem a seus deuses e à natureza, a festa acabou sendo adaptada aos hábitos cristãos. Antes de começar o tempo da quaresma – período de 40 dias (fora os domingos) que tem início na quarta-feira de cinzas e término na quinta-feira santa, na celebração da última ceia de Jesus com os doze apóstolos – eles faziam festa e churrascos porque da quarta-feira de cinzas até a Páscoa ficavam sem comer carne e celebravam a penitência. Assim, o termo carnaval (expressão do latim carnem levare, modificada depois para "carne, vale= é válida a carne") estaria ligado à liturgia cristã da igreja católica, tendo sido mais tarde instituído como feriado religioso.
A visão espírita
E, para nós, espíritas, o que muda nesta época? Afinal, como devemos encarar o carnaval? A resposta é simples: devemos encará-lo da mesma forma com que convivemos com tantos outros acontecimentos terrenos. Somos espíritas do mundo e no mundo e, uma vez que evoluímos em sociedade e estamos inseridos, portanto, na cultura e história da nossa própria civilização, nosso dever sempre será buscar o progresso, esforçando-nos para vencer obstáculos, vícios e imperfeições, seja lá qual for o ambiente.
A resposta é única e deve servir também para sanar qualquer outra dúvida que nos surja. A lei divina, na qual está inserida a necessidade do progresso, será sempre a mesma em todas as épocas e em todos os lugares, devendo os princípios cristãos ser vivenciados e exemplificados na sua integridade. Para que possamos ser verdadeiros homens de bem, a condição é que nos esforcemos para combater vícios de qualquer natureza, que acabam por nos escravizar, impedindo-nos de exercer a alegria de sermos livres. A doutrina espírita nada proíbe, mas mostra ao homem a importância da sua responsabilidade, através da fé raciocinada. Somos livres, sim, para realizar qualquer desejo, desde que assumamos as consequências de nossos atos. Responsabilidade não sai de férias nos dias de folia. Colheremos sempre aquilo que plantarmos.
A sintonia mental
Se para o espírito tudo é uma questão de sintonia mental para a formação de seu ambiente fluídico, importará sempre e muito mais a qualidade de seu pensamento para viver o carnaval, pois a atração dos fluidos espirituais se dará pela Lei da Similitude (semelhante atrai semelhante). E aqui, como simples exemplo, cabe uma reflexão sem preconceitos. Quem estará fazendo uma melhor sintonia no carnaval: o mestre da bateria de uma escola de samba, que com muito amor, disciplina e trabalho, tem o coração grato a Deus por poder proporcionar momentos de alegria e emoção num sambódromo; ou aquele que se entristece, isolando-se nos bares das esquinas para ficar longe da folia e da multidão?
Por favorecer esse entendimento da vida em sua dimensão maior, o espiritismo amplia as possibilidades de felicidade. Sua missão consoladora acaba por proporcionar a formação não de adeptos tristonhos e taciturnos, mas de pessoas alegres e otimistas, esperançosas de um futuro melhor. A verdade é que essa mesma compreensão doutrinária nos permite também a análise de nossos acertos e desacertos, sobre o que entendemos por felicidade na Terra, uma morada ainda de provas e expiações. Assim, é fácil perceber que trazemos represadas em nosso íntimo ansiedades e fantasias, desejos incontidos, fáceis de serem exteriorizados em momentos de maior permissividade. O carnaval acaba por se prestar à exteriorização desses anseios mais íntimos. E aí todo cuidado é pouco. É preciso, pois, estarmos muito atentos à vigília do nosso campo mental, pois onde quer que coloquemos nossas aspirações, aí encontraremos intercâmbio.
O trabalho dos benfeitores
O uso e abuso de bebidas alcoólicas, como agentes encorajadores da folia, a atividade sexual irresponsável e o uso de drogas, dentre outros preparativos carnavalescos, acabam por transformar esse período em tempos difíceis de estatísticas tristonhas de acidentes, assassinatos, doenças e confusões, o que exige muito trabalho do plano espiritual.
Sabemos, entretanto, que tudo sempre dependerá da nossa escolha na questão da associação espiritual. Afinal, qual seria o mérito daquele que só conseguisse manter seu padrão vibratório positivo dentro dos centros espíritas? O valor do aprendizado também está no desafio desse autoconhecimento, na segurança da fé conquistada, na superação dos obstáculos.
O carnaval não pode ser simplesmente rejeitado, mas vivenciado com a segurança do entendimento espírita de responsabilidade e bom senso, como uma festa popular que ainda tem lugar na escala evolutiva da Terra. Nada há de errado em se buscar a alegria, as manifestações de felicidade, desde que se questione os caminhos que levam a ela, para não cairmos nos enganos da felicidade aparente. O caminho a ser seguido precisa ficar bem claro, se não quisermos complicações futuras: aquilo que não é bom nos outros momentos da vida não pode ser positivo apenas porque é carnaval. E que no nosso estandarte permaneça como parâmetro a clássica e mais importante mensagem: colocar-se no lugar do outro. Sempre.