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A finalidade dos romances de Emmanuel


Toda obra escrita é produzida com uma finalidade específica

Toda obra escrita é produzida, invariavelmente, com uma finalidade específica.

Esta, por sua vez, deriva de um conjunto de intenções, objetivos e expectativas do autor. É norteado por esses princípios que um texto é, geralmente, pensado e elaborado.

Neste estudo, pretendemos analisar não o conteúdo propriamente dito, o qual dá corpo às tramas transcorridas em Há Dois Mil Anos, Cinquenta Anos Depois, Paulo e Estêvão, Renúncia e Ave, Cristo!, mas destacar parte das intenções e dos pressupostos que motivaram Emmanuel a rememorar essas histórias. Com esse propósito, seguem algumas passagens expressas por ele mesmo, acerca do sentido e da função do conteúdo de cada um de seus romances.

Em “Na intimidade de Emmanuel”, espécie de texto introdutório à obra Há Dois Mil Anos, é possível conhecer as intenções prévias do autor, assim como as suas primeiras impressões acerca do conteúdo do romance. Em 7 de setembro de 1938, quando ainda ditava o livro A Caminho da Luz – finalizado em 21 do mesmo mês –, Emmanuel manifestou:

– “Algum dia, se Deus mo permitir, falar-vos-ei do orgulhoso patrício Públio Lentulus, a fim de algo aprenderdes nas dolorosas experiências de uma alma indiferente e ingrata.”

Em 24 de outubro de 1938, foi iniciada a psicografia de Há Dois Mil Anos e, no dia seguinte, o Espírito revelou:

“Agora verificareis a extensão de minhas fraquezas no passado [...]. Orai comigo, pedindo a Jesus para que eu possa completar esse esforço [...] a fim de que minha confissão seja um roteiro para todos.”

E em dezembro do mesmo ano, o autor complementou:

“Permita Jesus que eu possa atingir os fins a que me propus, apresentando, nesse trabalho, não uma lembrança interessante acerca de minha pobre personalidade, mas, tão somente, uma experiência para os que hoje trabalham na semeadura e na seara do Nosso Divino Mestre.”

Em “Carta ao Leitor”, texto que introduz o livro Cinquenta Anos Depois, Emmanuel chamou atenção para o fato de o escravo Nestório, que aparece na história como a reencarnação de Públio Lentulus, não ser a figura central das páginas deste romance. Conforme a seguinte passagem:

Podemos afirmar [...], que este volume não relaciona, de modo integral, a continuação das experiências purificadoras do antigo senador Lentulus, nos círculos de resgate dos trabalhos terrestres. Nesse sentido, o conteúdo do livro trata, na verdade, da história da vida de Célia, que foi, segundo o autor, [...] um sublime coração feminino que se divinizou no sacrifício e na abnegação, confiando em Jesus, nas lágrimas da sua noite de dor e de trabalho, de reparação e de esperança.[...]

E em seguida, Emmanuel fez a seguinte recomendação ao leitor:

[...] lê esta história real e medita. Os exemplos de uma alma santificada no sofrimento e na humildade, ensinar-te-ão a amar o trabalho e as penas de cada dia; observando-lhe os martírios morais e sentindo, de perto, a sua profunda fé, experimentarás um consolo brando, renovando as tuas esperanças em Jesus Cristo.

Em “Breve Notícia”, texto que antecede e prepara o leitor para a história Paulo e Estêvão, Emmanuel esclareceu:

[...] não é nosso propósito levantar apenas uma biografia romanceada. [...] Nosso melhor e mais sincero desejo é recordar as lutas acerbas e os ásperos testemunhos de um coração extraordinário, que se levantou das lutas humanas para seguir os passos do Mestre, num esforço incessante.

Mais adiante, o autor revelou:

Outra finalidade deste esforço humilde é reconhecer que o Apóstolo não poderia chegar a essa possibilidade, em ação isolada no mundo. [...] sem cooperação, não poderia existir amor; e o amor é a força de Deus, que equilibra o Universo.

E, no final, Emmanuel complementou:

Oferecendo, pois, este humilde trabalho aos nossos irmãos da Terra, formulamos votos para que o exemplo do Grande Convertido se faça mais claro em nossos corações, a fim de que cada discípulo possa entender quanto lhe compete trabalhar e sofrer, por amor a Jesus Cristo.

Em “Velhas Recordações”, texto que serve como introdução à história Renúncia, Emmanuel ponderou:

Este é um livro de sentimento, para quem aprecie a experiência humana através do coração. [...] A maioria dos aprendizes do Evangelho deixa-se tomar, em sentido absoluto, pelas ideias de resgate escabroso, de olho por olho, ou, então, pela preocupação de recompensas na Terra ou no Céu. [...] A esperança e a responsabilidade parecem tesouros esquecidos. [...]

Nesse sentido, pautando-se pelos exemplos de dedicação e de amor renunciado demonstrados por Alcíone, que é a personagem central das páginas desse romance, o autor fez a seguinte exortação ao leitor:

[...] Com seu gesto divino, a Terra não é apenas um lugar de expiação destinado a exílio amarguroso, mas, também, uma escola sublime, digna de ser visitada pelos gênios celestes. Dentro dos horizontes do Planeta, ainda vigem a sombra, a morte, a lágrima... Isso é incontestável. Mas, quem seguir nas estradas que Alcíone trilhou, converterá todo esse patrimônio em tesouros opimos para a vida imortal.

No texto introdutório – homônimo – de Ave, Cristo!, Emmanuel fez a seguinte colocação:

Hoje, como outrora, na organização social em decadência, Jesus avança no mundo, restaurando a esperança e a fraternidade, para que o santuário do amor seja reconstituído em seus legítimos fundamentos.

Com base nessa frase, é possível inferir a existência de certa analogia entre os sacrifícios vividos pelos cristãos do século III e o papel a ser desempenhado pelos espíritas no processo de exemplificação do Evangelho na atual fase de transição, vivida na Terra, rumo ao reajustamento dos valores humanos.

Pois, conforme o autor explicou:

[...] não nos propomos romancear, fazer literatura de ficção, mas sim trazer aos nossos companheiros do Cristianismo redivivo, na seara espírita, breve página da história sublime dos pioneiros de nossa fé.

Que o exemplo dos filhos do Evangelho, nos tempos pós-apostólicos, nos inspire hoje a simplicidade e o trabalho, a confiança e o amor, com que sabiam abdicar de si próprios, em serviço do Divino Mestre![...].

Portanto, voltados à divulgação de exemplos de vida pautados pelas lições e pelos princípios do Evangelho, os cinco romances – a nós ofertados por Emmanuel, por intermédio da mediunidade de Chico Xavier – têm a finalidade de nos servir de roteiro e fonte de inspiração para melhor conduzirmos, em termos morais, as nossas vidas.

Ademais, o autor espiritual nos induz à reflexão sobre a existência de certa similitude entre o momento em que vivemos e os três primeiros séculos do Cristianismo – época em que transcorreu a maior parte das histórias por ele narradas.

Nesse sentido, essas obras se destinam à promoção de certo tipo de conduta a ser assimilada e vivida, em termos práticos, no transcorrer de nossas experiências cotidianas, conforme consta na seguinte recomendação extraída do livro Emmanuel:

O essencial é meter mãos à obra, aperfeiçoando, cada qual, o seu próprio coração primeiramente, afinando-o com a lição de humildade e de amor do Evangelho, transformando em seguida os seus lares, as suas cidades e os seus países, a fim de que tudo na Terra respire a mesma felicidade e a mesma beleza dos orbes elevados [...].

Flávio Rey de Carvalho
Revista Reformador - Setembro de 2010
Republicado em 27/04/2015